“Não alcançamos a liberdade
buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma conseqüência”. (Léon
Tolstoi)
Também disse: “Je suis Charlie”. Também
gritei por liberdade. Também repudiei e continuo repudiando todo ato de
violência contra a liberdade de expressão. Existem alguns “hadith (tradições com valor jurisprudencial,
logo abaixo do Alcorão) que proíbem explicitamente os muçulmanos de criar
representações visuais e figuras de Maomé. Mas os jornalistas e
cartunistas do Charlie Hebdo não eram muçulmanos. Não estavam limitados pelas
leis e regras do Islã. Por isso o atentado que matou 12 pessoas na sede da
revista Charlie Hebdo, no dia 07, como represália pelos cartuns que satirizavam
o profeta Maomé, repercutiu no muno todo. Nas primeiras páginas de quase todos
os jornais do mundo foram estampadas manchetes com os dizeres: “Barbarie”, “Guerra
contra a liberdade”, “Somos todos Charlie”, “A liberdade assassinada” e alguns
estamparam a primeira página em negro, representando luto. Toda violência
contra a liberdade e ou contra o ser humano deve ser repudiada veementemente. A
reação da imprensa se justifica. Mas a liberdade não é solitária.
Os argumentos acalorados que surgiram em
defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão gerou uma
interrogação em minha mente. Todos falam dessa liberdade como se ela fosse
absoluta. Será que a liberdade de expressão é absoluta, não corre risco, não
tem responsabilidade? Entendo, como afirmam os filósofos, que a liberdade é
inerente ao ser. Que a liberdade de expressão é um dos pilares da democracia.
Mas também entendo que a liberdade precisa ser embasada em princípios e valores.
Um dos princípios é o respeito ao outro. Não posso em nome da liberdade
ofender, menosprezar, ridicularizar, humilhar, mentir,
difamar, caluniar o outro.
Lembro-me de uma partida de futebol entre o Corinthians
e o Palmeiras, final do campeonato Paulista de 1999. Com o título praticamente
garantido, Edilson, jogador do Corinthians faz umas “embaixadas” e malabarismos
com a bola. O lateral Junior e o atacante Paulo Nunes do Palmeiras não gostaram
e partiram para cima do corintiano desencadeando uma briga generalizada.
Edilson tinha habilidade e liberdade para provocar o adversário, mas correu o
risco e foi o responsável pelo tumulto.
Não existem justificativas para o que fizeram
contra a revista Charlie Hebdo. Mas a reação contra eles deve servir de
reflexão sobre os limites da liberdade de expressão. Muitos vão dizer que liberdade
limitada não é liberdade. Mas a liberdade de expressão não é solitária, ela é
companheira da verdade e do respeito ao outro. Estes são os seus limites.
Ezequiel Luz