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sábado, 11 de dezembro de 2021

A BIBLIA E O COMPORTAMENTO EVANGÉLICO

 

“Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados” (Lucas 3.8a)

 

Já estamos as portas de mais um final de ano. Domingo é o terceiro do Advento. Período litúrgico que chama a Igreja a preparar-se para o Natal e também a refletir sobre a utopia escatológica do Reino de Deus. Além disso, nas comunidades evangélicas mais tradicionais comemora-se o Dia da Bíblia. Estas datas, a aprovação do pastor presbiteriano André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal e a divulgação de um vídeo com a comemoração entusiasmada da Primeira Dama, me levaram a pensar sobre o papel da Bíblia no comportamento dos evangélicos brasileiros.

A Bíblia é um conjunto de livros com narrativas lindas sobre religiosidade, justiça social, relacionamentos familiares. Possui vários estilos literários como histórias, poesia, cânticos. Escritores de diversas culturas e épocas diferentes. Portanto não é possível pegar um texto bíblico qualquer e aplicar à nossa realidade. É necessário avaliar o contexto gramatical e histórico para compreendê-lo e avaliar se a mensagem é pertinente aos dias modernos.

Por exemplo, os textos bíblicos indicados para o 3º domingo de advento são de diferentes formatos. Confrontados com a nossa realidade revelam o valor da esperança no Reino de Deus. Somos alertados a ter alegria, ser amável, tolerante, a não andar ansiosos e sim, esperançar e viver em paz uns com os outros. O texto de Lucas 3.7-18 nos apresenta João Batista exigindo que todos que o procuravam para o batismo dessem frutos de arrependimento partilhando o que tinham com os mais necessitados, agindo com justiça e não praticando a violência. Quando o povo insinua que ele seria o Messias, ele aponta para Jesus.

 Vivemos tempos difíceis no Brasil. É notório o descaso das autoridades no enfrentamento da pandemia. Mais de 615 mil brasileiros morreram de Covid. A fome voltou a rondar os lares. Aproximadamente 116 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar, 43 milhões não contam com alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões estão passando fome. Quase 15 milhões estão desempregados aumentando o número de pessoas em situação de rua.  Institutos de pesquisas indicam o crescimento da violência doméstica e policial. Estes são alguns, talvez os mais graves, problemas enfrentados pelo país.

Diante de um quadro assustador como este, qual deveria ser o comportamento dos evangélicos brasileiros? Comemorar a indicação de um evangélico ao STF, um espaço do Estado que é laico? O problema não é o indicado ser evangélico, mas sim o que ele representa. Um projeto de poder que se apropria da Bíblia para legitimar uma política autoritária, desumana e exclusiva. A Bíblia aponta para um Deus que se fez gente humilde na pessoa de Jesus e nos ensinou amar o próximo, o acolhimento, a solidariedade, a partilha, a tolerância, o perdão. Quando olhamos para Jesus, o Deus frágil, entendemos a necessidade de colocar-se ao lado dos mais pobres e humildes da população.

Comporta-se de acordo com a Bíblia é dar sinais da possibilidade do Reino de Deus. Um reino de amor, justiça social e fraternidade. 

Rev. Ezequiel Luz