MEUS PARCEIROS

quinta-feira, 25 de julho de 2013

110 ANOS: RECORDAR É VIVER

“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. (Lamentações 3.21)

Lembro-me como se fosse hoje o dia em que conheci o lugar onde meu pai nasceu. Tinha vinte anos de idade. O sitio da família, onde eles plantavam mandioca para fazer farinha, ainda existia. Estar ali, naquele lugar, observar com viviam as pessoas, conversar com elas sobre o passado dos meus avós paternos foi muito importante. Muitos que conheceram meu pai menino e adolescente ainda moravam nas redondezas. Pude conversar com alguns deles. Disseram-me coisas importantes que ajudaram a compreender melhor meu velho e a respeitá-lo mais.

Conhecer o passado é fundamental para não perder a identidade. Recordar a história é necessário para alimentar a esperança em um futuro melhor. Por esta razão, ao comemoramos 110 anos da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, quero usar este espaço para recordar. Mesmo resumidamente quero trazer a memória o que pode dar esperança. Recordar, principalmente quem somos. Somos a IPI do Brasil, uma igreja cristã, reformada, calvinista, presbiteriana e brasileira.

Cristã porque somos um ramo da igreja inaugurada por Jesus Cristo. Reformada porque estamos ligados ao movimento da Reforma Religiosa do Século XVI, liderada por Matinho Lutero. Calvinista porque nossa tradição doutrinária e litúrgica está vinculada ao reformador francês João Calvino, um intelectual brilhante e interprete sério da Bíblia, que aprofundou a reforma de Lutero. Presbiteriana porque adotamos a forma de governo representativa, centralizada nos concílios formados por presbíteros eleitos pela igreja e por pastores. Brasileira porque somos frutos de um movimento nacionalista que surgiu dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil no inicio do século XX.
Foi no dia 31 de julho de 1903 que pastores e presbíteros nacionalistas, liderados pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, organizaram a IPI do Brasil. Entendiam que chegara a hora de caminhar utilizando recursos próprios sem a tutela da Igreja Presbiteriana dos EUA. Somos “independentes” porque desenvolvemos nossas atividades emancipados da igreja mãe. Aliás, somos a primeira igreja evangélica nacional. Hoje somos mais de quinhentas igrejas espalhadas pelo Brasil ligadas pelos laços da Reforma, do calvinismo, do presbiterianismo e do “31 de julho”.

Neste domingo, ao comemorar mais um “31 de julho”, devemos expressar nossa gratidão a Deus, reafirmando nossa identidade calvinista e presbiteriana. Temos uma história, um passado que não nos envergonha, mas dá-nos esperança quanto à realização da missão de Glorificar a Deus. Amém!



Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O EU E O OUTRO

“Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. (Lc 10.41,42)

Jean-Paul Sartre, um dos expoentes do existencialismo, escreveu uma peça de teatro chamada “Entre quatro paredes”. Na peça há uma frase que se tornou famosa: “o inferno, são os outros”. À primeira vista, ela soa como um atestado de pessimismo quanto ao sucesso das relações humanas. Os outros nos machucam, nos decepcionam, não permitem que nossos planos deem certo, e por isso às vezes chegamos a pensar que se não fossem os outros, a vida seria mais feliz. Mas é no relacionamento com o outro que a vida adquire sentido.

Entre a maioria dos existencialistas há uma premissa que diz que no homem, a “existência precede a essência”. Em outras palavras, o homem quando nasce passa a existir no mundo e só depois, no decorrer de sua vida, ele constrói a sua essência. Ela é basicamente formada pelas escolhas que fazemos, como valores, princípios, profissão, opiniões, gostos, crenças e outras. Sartre, na mesma peça de teatro, afirma que o homem “nada mais é do que a soma de suas escolhas”.

O relacionamento gera conflitos. Quando encontro o outro há um confronto entre a minha liberdade e a dele. Mas o “eu” se torna pessoa, essência no relacionamento com o “outro”. Precisamos do outro para nos conhecer melhor, para aprender a confiar, para compartilhar alegrias e tristezas, vitórias e fracassos, para aprimorar nossas escolhas.

Marta e Maria possuem um relacionamento conflituoso em função das escolhas que fizeram. A essência de Marta é voltada para o trabalho, para as questões mais práticas. Maria, no entanto, construiu sua essência escolhendo as questões mais contemplativas. A visita de Jesus tornou evidente a diferença entre as duas. Jesus não condena Marta, não condena sua praticidade, ela se mostra irritada com a escolha da irmã e Jesus ensina que a sua inquietude pode encontrar alivio na contemplação de Maria.

Nossos relacionamentos podem ser conflituosos, mas nem por isso o outro é o nosso inferno. Precisamos é aprender a administrar nossas diferenças e crescer no relacionamento um com o outro. Tanto as “Martas” como as “Marias” são importantes no Reino de Deus.

Soli Deo Glória

Rev. Ezequiel Luz