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sábado, 29 de outubro de 2016

REFORMA PROTESTANTE E MODERNIDADE

Vivemos cada vez mais conscientizados acerca da nossa dor e finitude. Nossa tendência é escarparmos, a todo custo, de experiências tristes aderindo a tudo que possa proporcionar algum prazer. Mesmo com todo avanço tecnológico e material que permite administrarmos o tempo para nos dedicarmos as atividades mais prazerosas, no diluímos como pessoas, pois queremos adequar todas as nossas atividades somente àquilo que pode nos proporcionar vantagens imediatas. Zygmunt Bauman, pensador polonês de grande vigor intelectual, se refere à modernidade como “sociedade liquida”. Isto porque os valores que a cultura ocidental considerava como nobres e elevados estão se diluindo como água que se escorre das nossas mãos, sem que sejamos capazes de detê-la. A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incertezas constantes. Bauman afirma que a vida moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras. O prêmio nessa competição é a garantia temporária de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo.

Quando estou em um shopping, supermercado, rodoviária, aeroporto ou no centro de uma grande cidade procuro, sempre que possível, visitar as livrarias. Corro meus olhos pelos livros expostos logo na entrada, que são os mais procurados, e fico perplexo. Sempre há uma boa quantidade de livros de autoajuda ao lado de livros de autores evangélicos, católicos e bíblias de estudos. Há alguns anos isso era impensável, mas hoje é um sinal do crescimento evangélico e religioso em nosso país. No entanto, diante de tanta exposição, fico me perguntado se a fé evangélica que temos hoje não é uma “fé liquida”. A maioria dos cristãos estão sempre procurando novidades no mercado religioso para evitar serem excluídas do grupo.

A Igreja Cristã tem no Pentecostes a sua certidão de nascimento. Durante o primeiro século, se manteve fiel. Sofreu muita perseguição por confessar ser Jesus o Senhor. Com a “conversão” do Imperador Constantino a igreja passou a ser a religião oficial do Império. Não foi mais perseguida, mas começou a se desviar dos ensinamentos do mestre. Na Idade Média a salvação era comercializada para arrecadar fundos para a construção da basílica de São Pedro. As doutrinas e práticas originais foram se modificando e se afastando sensivelmente da Bíblia.

Muitas vozes se levantaram clamando por uma reforma na Igreja. Homens como João Huss, e tantos outros, foram mortos por defenderem seus ideais de conduta e fé. Dizem que no cárcere, sentenciado pelo papa para ser queimado vivo, João Huss disse: "Podem matar o ganso (huss em alemão é ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar". João Huss morreu em 1415. Aproximadamente cem anos depois surge o cisne, um monge agostiniano chamado Lutero, preocupado com o problema da salvação. Durante anos seguidos, estuda a Bíblia e descobre na carta de Paulo aos Romanos, que a salvação é através da fé em Jesus Cristo. Tradicionalmente, 3l de outubro de 1517 é aceita como a data do nascimento do movimento reformador. Neste dia Martinho Lutero afixou as noventa e cinco teses nas portas da Catedral de Wittemberg. Suas ideias se espalharam rapidamente como fogo em palheiro. Provocaram mudanças profundas na igreja e na cultura ocidental.

Neste ano a Reforma Protestante completará 499 anos. Ao comemorar a data precisamos reafirmar os ensinos do movimento reformista. A época que vivemos, chamada por alguns de pós-modernidade, e por Bauman “sociedade liquida”, possui algumas características. As mais aparentes são a falta de disposição para assumir compromissos, não se fixar a uma relação afetiva, a uma ideologia política, a um grupo de interesse, a uma instituição religiosa. Estas são algumas posturas contemporâneas. A adesão a fé é meramente mercantil e interesseira. A frequência às reuniões da igreja é estimulada pelo desejo de obter sucesso profissional, prosperidade, cura física e emocional. Não importa o conteúdo dessa fé, ela tem que produzir resultados imediatos.

O mundo moderno e a igreja de nossos dias precisam de pessoas como Lutero. Pessoas, que possuídas por uma fé genuína, acreditam, ousam, pensam e amam a Deus acima de qualquer coisa. Reformadores conectados com um mundo em constantes mudanças e que não têm preguiça de ler e estudar com seriedade, de ir além, de questionar seu tempo e confrontá-lo com as Escrituras. Pessoas fiéis a Jesus e verdadeiramente transformadas pelo Espírito Santo. Pessoas conscientes da atualidade, da urgência e da necessidade do poder transformador do evangelho.

Hoje, ao comemorarmos mais um ano da reforma, minha oração é que o mesmo Espírito Santo que agiu na vida de Lutero e o levou a influenciar com o evangelho a sua geração, venha sobre nós também, levando-nos a reformar a fé cristã de nossos dias. Amém!

Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz