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sábado, 23 de junho de 2018

NÃO FOI UMA SIMPLES BRINCADEIRA


Não lembro bem do lugar e nem das pessoas. Lembro-me do fato, de uma pessoa e das circunstâncias. Acho que foi em uma Assembleia Geral da IPI do Brasil. O Rev. Jonas Nascimento estava acompanhando um pastor visitante da Nigéria (se não me engano). Um senhor muito simpático, sorridente, acessível. O Jonas ensinou o pastor nigeriano a dizer que era corintiano.  Na primeira oportunidade que tive perguntei-lhe se gostaria de aprender um elogio ao Corinthians. Ele disse que sim então eu o fiz repetir comigo algumas vezes: “Eu odeio o Corinthians”. Ele aprendeu a frase, mas queria saber o significado. Respondi: “The meaning is I love you Corinthias”. Ele então se dirige ao Jonas e diz: “Eu odeio o Corinthians”. O Jonas disse: “Nãooo,” e explicou o verdadeiro significado da frase. Ele olhou para mim rindo e disse: Yes, you deceived me (você me enganou).
Isso foi uma brincadeira. Agora o que os torcedores brasileiros fizeram com mulheres na Copa do Mundo não foi uma brincadeira. Um âncora de um telejornal brasileiro insinuou ser “apenas uma brincadeira de rapazes foliões”. Vários internautas também afirmaram que foi “uma simples brincadeira e que os brincalhões estão sendo linchado pela mídia sem motivo”.  Na verde o que eles fizeram foi um crime que provocou um estardalhaço nas redes sociais. Eles demonstraram uma total falta de respeito não apenas para com as mulheres, mas para com o povo russo e para com o ser humano em geral.
Mas há um aspecto positivo em todo esse episódio: a reação firme das mulheres russas e brasileiras. Os torcedores brasileiros que divulgaram os vídeos pela internet com suas “brincadeiras” estão tendo o que merecem.  Ainda que a cultura do assédio seja estrutural, ela é praticada por indivíduos, e deve, portanto, ser combatida caso a caso. Alena Popova, uma das mulheres russa assediada, está instigando o mundo a se manifestar em uma petição on-line para que os torcedores brasileiros flagrados assediando mulheres de seu país durante a Copa do Mundo sejam responsabilizados. O Ministério Público Federal do Distrito Federal abriu inquérito para apurar o caso. A ONU mulheres, também se manifestou dizendo que os torcedores brasileiros reduziram mulheres a objetos sexuais em um exemplo de como a misoginia "assume diferentes formas e não tem fronteiras".
Fica aqui registrado o meu apoio incondicional a todas as mulheres que corajosamente denunciam o assédio, a humilhação e a violência contra elas. Toda a sociedade deve dar um basta à cultura machista e se unir em repúdio a toda e qualquer forma de assédio, humilhação, violência motivada pela cor, raça ou sexo. Devemos também nos unir em uma campanha educativa que preconize o respeito à pessoa humana como um valor fundamental da cidadania.

Rev. Ezequiel Luz