Não lembro bem do lugar e nem das pessoas.
Lembro-me do fato, de uma pessoa e das circunstâncias. Acho que foi em uma
Assembleia Geral da IPI do Brasil. O Rev. Jonas Nascimento estava acompanhando
um pastor visitante da Nigéria (se não me engano). Um senhor muito simpático,
sorridente, acessível. O Jonas ensinou o pastor nigeriano a dizer que era
corintiano. Na primeira oportunidade que
tive perguntei-lhe se gostaria de aprender um elogio ao Corinthians. Ele disse
que sim então eu o fiz repetir comigo algumas vezes: “Eu odeio o Corinthians”.
Ele aprendeu a frase, mas queria saber o significado. Respondi: “The meaning is
I love you Corinthias”. Ele então se dirige ao Jonas e diz: “Eu odeio o
Corinthians”. O Jonas disse: “Nãooo,” e explicou o verdadeiro significado da
frase. Ele olhou para mim rindo e disse: Yes, you deceived me (você me
enganou).
Isso foi uma brincadeira. Agora o que os
torcedores brasileiros fizeram com mulheres na Copa do Mundo não foi uma
brincadeira. Um âncora de um telejornal brasileiro insinuou ser “apenas uma brincadeira
de rapazes foliões”. Vários internautas também afirmaram que foi “uma simples
brincadeira e que os brincalhões estão sendo linchado pela mídia sem motivo”. Na verde o que eles fizeram foi um crime que
provocou um estardalhaço nas redes sociais. Eles demonstraram uma total falta
de respeito não apenas para com as mulheres, mas para com o povo russo e para
com o ser humano em geral.
Mas há um aspecto positivo em todo esse
episódio: a reação firme das mulheres russas e brasileiras. Os torcedores
brasileiros que divulgaram os vídeos pela internet com suas “brincadeiras”
estão tendo o que merecem. Ainda que a
cultura do assédio seja estrutural, ela é praticada por indivíduos, e deve,
portanto, ser combatida caso a caso. Alena Popova, uma das mulheres russa
assediada, está instigando o mundo a se manifestar em uma petição on-line para que os torcedores brasileiros flagrados assediando mulheres de seu país durante a Copa do Mundo sejam responsabilizados. O Ministério Público Federal do Distrito Federal abriu inquérito para apurar o caso. A ONU mulheres, também se manifestou dizendo que os torcedores brasileiros reduziram mulheres a objetos sexuais em um exemplo de como a misoginia "assume diferentes formas e não tem fronteiras".
Fica aqui registrado o meu apoio
incondicional a todas as mulheres que corajosamente denunciam o assédio, a
humilhação e a violência contra elas. Toda a sociedade deve dar um basta à
cultura machista e se unir em repúdio a toda e qualquer forma de assédio, humilhação,
violência motivada pela cor, raça ou sexo. Devemos também nos unir em uma
campanha educativa que preconize o respeito à pessoa humana como um valor
fundamental da cidadania.
Rev. Ezequiel Luz