“Marta!
Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois,
escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. (Lc 10.41,42)
Jean-Paul Sartre,
um dos expoentes do existencialismo, escreveu uma peça de teatro chamada “Entre
quatro paredes”. Na peça há uma frase que se tornou famosa: “o inferno, são os
outros”. À primeira vista, ela soa como um atestado de pessimismo quanto ao
sucesso das relações humanas. Os outros nos machucam, nos decepcionam, não
permitem que nossos planos deem certo, e por isso às vezes chegamos a pensar
que se não fossem os outros, a vida seria mais feliz. Mas é no relacionamento
com o outro que a vida adquire sentido.
Entre a maioria dos existencialistas há uma
premissa que diz que no homem, a “existência precede a essência”. Em outras
palavras, o homem quando nasce passa a existir no mundo e só depois, no
decorrer de sua vida, ele constrói a sua essência. Ela é basicamente formada pelas
escolhas que fazemos, como valores, princípios, profissão, opiniões, gostos,
crenças e outras. Sartre, na mesma peça de teatro, afirma que o homem “nada
mais é do que a soma de suas escolhas”.
O relacionamento gera conflitos. Quando
encontro o outro há um confronto entre a minha liberdade e a dele. Mas o “eu”
se torna pessoa, essência no relacionamento com o “outro”. Precisamos do outro
para nos conhecer melhor, para aprender a confiar, para compartilhar alegrias e
tristezas, vitórias e fracassos, para aprimorar nossas escolhas.
Marta e Maria possuem um relacionamento
conflituoso em função das escolhas que fizeram. A essência de Marta é voltada
para o trabalho, para as questões mais práticas. Maria, no entanto, construiu
sua essência escolhendo as questões mais contemplativas. A visita de Jesus
tornou evidente a diferença entre as duas. Jesus não condena Marta, não condena
sua praticidade, ela se mostra irritada com a escolha da irmã e Jesus ensina que
a sua inquietude pode encontrar alivio na contemplação de Maria.
Nossos relacionamentos podem ser
conflituosos, mas nem por isso o outro é o nosso inferno. Precisamos é aprender
a administrar nossas diferenças e crescer no relacionamento um com o outro.
Tanto as “Martas” como as “Marias” são importantes no Reino de Deus.
Soli Deo Glória
Rev. Ezequiel Luz
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