Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não
sei; acaso sou eu tutor de meu irmão?”(Gn 4.9)
Ouvi, há algum tempo atrás, o relato de um
senhor, membro de igreja protestante, que quando jovem universitário passou
algumas semanas com moradores de rua, dormindo na praça, em maloca ou debaixo
de ponte como parte da pesquisa de campo do seu trabalho de conclusão de curso.
Ele conta que andando no centro velho de São
Paulo um menino tentou roubar a bolsa de sua namorada, mas sem êxito. O menino
correu e ele foi atrás. Alcançando-o disse: “Calma! Ninguém vai te fazer mal.
Só queremos conversar com você”. Sua namorada se aproximou e perguntou: “Por que
você tentou me roubar?”. “Estou com fome”, respondeu. “Por que não me pediu
comida?” “Estou pedindo desde cedo e ninguém me dá!”. Levaram o menino a um
restaurante e descobriram que tinha 10 anos, nunca soube quem era seu pai e que
sua mãe, seus tios eram alcoólatras e não ligavam para ele.
O casal, não podendo adotá-lo, mas movido por
amor e solidariedade o encaminhou a uma instituição mantida pela igreja. Ele
foi recebido com muito amor e carinho. Depois de constatarem que os parentes
não tinham interesse nem condições de educa-lo, conseguiram autorização
judicial para amparar o menino. Ele concluiu os estudos, formou-se em teologia
e foi ordenado pastor. Muito tempo depois os dois se encontraram em um evento
da igreja.
Lembrei-me desse relato diante das discussões
sobre a redução da maioridade penal. Nossa sociedade está cada vez mais
“caimilizada”. É como se dissemos: “acaso
sou tutor de crianças abandonadas”. O que seria do menino do relato acima se
não fosse amparado? O que seria de adolescentes de 15, 16, 17 anos que hoje
assaltam, matam, estupram se quando crianças fossem amparadas com amor? Quantos
deles estariam no crime? Se a redução da maioridade penal for aprovada é um
indicativo de que falhamos no papel de tutor e na responsabilidade de educar crianças
e adolescentes.
Não podemos ser colocados em trincheiras contra
ou a favor da redução da maioridade penal. Mas, arrependidos deveríamos
confessar nossa falha e unidos levantar a bandeira do amor, da solidariedade e
da justiça social. Valores e princípios do evangelho de Jesus Cristo.
Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz
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