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sexta-feira, 3 de julho de 2015

SOCIEDADE “CAIMILIZADA”

Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso sou eu tutor de meu irmão?”(Gn 4.9)

Ouvi, há algum tempo atrás, o relato de um senhor, membro de igreja protestante, que quando jovem universitário passou algumas semanas com moradores de rua, dormindo na praça, em maloca ou debaixo de ponte como parte da pesquisa de campo do seu trabalho de conclusão de curso.

Ele conta que andando no centro velho de São Paulo um menino tentou roubar a bolsa de sua namorada, mas sem êxito. O menino correu e ele foi atrás. Alcançando-o disse: “Calma! Ninguém vai te fazer mal. Só queremos conversar com você”. Sua namorada se aproximou e perguntou: “Por que você tentou me roubar?”. “Estou com fome”, respondeu. “Por que não me pediu comida?” “Estou pedindo desde cedo e ninguém me dá!”. Levaram o menino a um restaurante e descobriram que tinha 10 anos, nunca soube quem era seu pai e que sua mãe, seus tios eram alcoólatras e não ligavam para ele.

O casal, não podendo adotá-lo, mas movido por amor e solidariedade o encaminhou a uma instituição mantida pela igreja. Ele foi recebido com muito amor e carinho. Depois de constatarem que os parentes não tinham interesse nem condições de educa-lo, conseguiram autorização judicial para amparar o menino. Ele concluiu os estudos, formou-se em teologia e foi ordenado pastor. Muito tempo depois os dois se encontraram em um evento da igreja.

Lembrei-me desse relato diante das discussões sobre a redução da maioridade penal. Nossa sociedade está cada vez mais “caimilizada”.  É como se dissemos: “acaso sou tutor de crianças abandonadas”. O que seria do menino do relato acima se não fosse amparado? O que seria de adolescentes de 15, 16, 17 anos que hoje assaltam, matam, estupram se quando crianças fossem amparadas com amor? Quantos deles estariam no crime? Se a redução da maioridade penal for aprovada é um indicativo de que falhamos no papel de tutor e na responsabilidade de educar crianças e adolescentes.

Não podemos ser colocados em trincheiras contra ou a favor da redução da maioridade penal. Mas, arrependidos deveríamos confessar nossa falha e unidos levantar a bandeira do amor, da solidariedade e da justiça social. Valores e princípios do evangelho de Jesus Cristo.

Soli Deo Gloria

Rev. Ezequiel Luz

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