“Façam
coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados” (Lucas 3.8a)
A
Bíblia é um conjunto de livros com narrativas lindas sobre religiosidade, justiça
social, relacionamentos familiares. Possui vários estilos literários como
histórias, poesia, cânticos. Escritores de diversas culturas e épocas
diferentes. Portanto não é possível pegar um texto bíblico qualquer e aplicar à
nossa realidade. É necessário avaliar o contexto gramatical e histórico para
compreendê-lo e avaliar se a mensagem é pertinente aos dias modernos.
Por
exemplo, os textos bíblicos indicados para o 3º domingo de advento são de diferentes
formatos. Confrontados com a nossa realidade revelam o valor da esperança no
Reino de Deus. Somos alertados a ter alegria, ser amável, tolerante, a não
andar ansiosos e sim, esperançar e viver em paz uns com os outros. O texto de
Lucas 3.7-18 nos apresenta João Batista exigindo que todos que o procuravam
para o batismo dessem frutos de arrependimento partilhando o que tinham com os
mais necessitados, agindo com justiça e não praticando a violência. Quando o
povo insinua que ele seria o Messias, ele aponta para Jesus.
Vivemos tempos difíceis no Brasil. É notório o
descaso das autoridades no enfrentamento da pandemia. Mais de 615 mil brasileiros
morreram de Covid. A fome voltou a rondar os lares. Aproximadamente 116 milhões
de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar, 43 milhões não
contam com alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões estão passando
fome. Quase 15 milhões estão desempregados aumentando o número de pessoas em
situação de rua. Institutos de pesquisas
indicam o crescimento da violência doméstica e policial. Estes são alguns,
talvez os mais graves, problemas enfrentados pelo país.
Diante
de um quadro assustador como este, qual deveria ser o comportamento dos
evangélicos brasileiros? Comemorar a indicação de um evangélico ao STF, um
espaço do Estado que é laico? O problema não é o indicado ser evangélico, mas
sim o que ele representa. Um projeto de poder que se apropria da Bíblia para
legitimar uma política autoritária, desumana e exclusiva. A Bíblia aponta para um
Deus que se fez gente humilde na pessoa de Jesus e nos ensinou amar o próximo,
o acolhimento, a solidariedade, a partilha, a tolerância, o perdão. Quando
olhamos para Jesus, o Deus frágil, entendemos a necessidade de colocar-se ao
lado dos mais pobres e humildes da população.
Comporta-se de acordo com a Bíblia é dar sinais da possibilidade do Reino de Deus. Um reino de amor, justiça social e fraternidade.
Rev. Ezequiel Luz
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