“Em todo trabalho há proveito” ( Provérbios 14:23)
O pai pede ao filho de oito anos que o ajude em algumas tarefas. O garoto se esforça para varrer a calçada, ajuntar o lixo e colocar no lugar apropriado. Enquanto isso, o pai, assobiando uma canção, limpa o quintal e termina a arrumação da garagem. Com tudo pronto elogia o trabalho do filho, faz um afago no garoto e juntos vão ver televisão. A mãe reclama, como faz habitualmente, da rotina doméstica, de como estava cansada e que ainda tinha muito trabalho por fazer. Irritada ela manda a filha lavar a louça do café. A menina obedece lamentando e visivelmente contrariada.
A cena é muito comum na maioria dos lares. Poderia também ser invertida: a mãe trabalhando alegremente e o pai reclamando. O que vale ressaltar é que as primeiras noções sobre a importância e a dignidade do trabalho são recebidas na infância. O conceito de trabalho como benção ou maldição se forma no lar através do exemplo dos pais. Trabalhar satisfeito ou aborrecido passa a idéia de trabalho como algo bom ou ruim.
O trabalho pode ser benção e pode ser maldição. Há pessoas que são exploradas. Trabalham apenas para a sobrevivência, em condições subumanas, e com uma carga horária maior do que o previsto em lei e sem nenhuma garantia dos direitos trabalhista. Nessas condições o trabalho lhes causa tudo menos alegria, satisfação ou realização pessoal. Outras vivem uma situação oposta. Para elas o trabalho é uma bênção. Sentem-se realizadas e recompensadas dignamente pelo que fazem. Trabalham sob condições dignas, agradáveis, corretas e com todos os direitos trabalhistas assegurados.
A luz da Bíblia, nós, os calvinistas, entendemos que o trabalho é parte da criação de Deus e não conseqüência do pecado. Antes mesmo da queda, o homem recebeu a incumbência de dominar e sujeitar a terra e dar nome aos animais. Essas tarefas implicavam em trabalho e que hoje conhecemos como “mandato cultural”. Isto é, através do trabalho o ser humano participa e dá continuidade ao ato criador de Deus. Mas com a queda, o trabalho deixa de ser prazeroso e agradável e passa a ser penoso, duro, extenuante. Mas nem por isso o “mandato cultural” é revogado. O trabalho não é maldição, mas a sua realização pós-queda ficou marcada pela opressão e pela injusta distribuição das riquezas produzidas.
Assim sendo, devemos dar graças a Deus pela benção do trabalho e ao mesmo tempo orar e lutar para que a opressão e a injustiça diminuam cada vez mais, até serem completamente banidas quando Cristo restaurar por completo toda a criação. Amem!
Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz