MEUS PARCEIROS

quinta-feira, 30 de abril de 2009

TRABALHO - BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO?

“Em todo trabalho há proveito” ( Provérbios 14:23)

O pai pede ao filho de oito anos que o ajude em algumas tarefas. O garoto se esforça para varrer a calçada, ajuntar o lixo e colocar no lugar apropriado. Enquanto isso, o pai, assobiando uma canção, limpa o quintal e termina a arrumação da garagem. Com tudo pronto elogia o trabalho do filho, faz um afago no garoto e juntos vão ver televisão. A mãe reclama, como faz habitualmente, da rotina doméstica, de como estava cansada e que ainda tinha muito trabalho por fazer. Irritada ela manda a filha lavar a louça do café. A menina obedece lamentando e visivelmente contrariada.

A cena é muito comum na maioria dos lares. Poderia também ser invertida: a mãe trabalhando alegremente e o pai reclamando. O que vale ressaltar é que as primeiras noções sobre a importância e a dignidade do trabalho são recebidas na infância. O conceito de trabalho como benção ou maldição se forma no lar através do exemplo dos pais. Trabalhar satisfeito ou aborrecido passa a idéia de trabalho como algo bom ou ruim.

O trabalho pode ser benção e pode ser maldição. Há pessoas que são exploradas. Trabalham apenas para a sobrevivência, em condições subumanas, e com uma carga horária maior do que o previsto em lei e sem nenhuma garantia dos direitos trabalhista. Nessas condições o trabalho lhes causa tudo menos alegria, satisfação ou realização pessoal. Outras vivem uma situação oposta. Para elas o trabalho é uma bênção. Sentem-se realizadas e recompensadas dignamente pelo que fazem. Trabalham sob condições dignas, agradáveis, corretas e com todos os direitos trabalhistas assegurados.

A luz da Bíblia, nós, os calvinistas, entendemos que o trabalho é parte da criação de Deus e não conseqüência do pecado. Antes mesmo da queda, o homem recebeu a incumbência de dominar e sujeitar a terra e dar nome aos animais. Essas tarefas implicavam em trabalho e que hoje conhecemos como “mandato cultural”. Isto é, através do trabalho o ser humano participa e dá continuidade ao ato criador de Deus. Mas com a queda, o trabalho deixa de ser prazeroso e agradável e passa a ser penoso, duro, extenuante. Mas nem por isso o “mandato cultural” é revogado. O trabalho não é maldição, mas a sua realização pós-queda ficou marcada pela opressão e pela injusta distribuição das riquezas produzidas.

Assim sendo, devemos dar graças a Deus pela benção do trabalho e ao mesmo tempo orar e lutar para que a opressão e a injustiça diminuam cada vez mais, até serem completamente banidas quando Cristo restaurar por completo toda a criação. Amem!


Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

sábado, 25 de abril de 2009

AINDA DISCUTINDO A RELAÇÃO

“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mt 11.30)

Semana passada, usamos o espaço desta pastoral para discutir a relação – a nossa relação com a igreja. Como faço toda a semana, enviei o texto para todos os meus contatos de e-mail. Entre as repostas que recebi uma foi do meu colega Rev. Antonio Faria dizendo que concordava comigo. Respondi: “Obrigado caro colega! Que Deus nos abençoe e nos ajude, no meio de tanta confusão, a reencontrar a igreja de Cristo”. Cliquei enviar e o e-mail foi. Foi, mas ficou. Ficou na minha mente. A expressão “reencontrar a igreja de Cristo” não me largava. Durante todo o dia e parte da noite esta frase foi como uma luz que piscava sem parar em minha cabeça. Reencontrar por quê? Reencontrar onde? Reencontra como?
No dia seguinte conversando com um colega de trabalho ele me confessou que o relacionamento com a igreja tem prejudicado o seu relacionamento com Deus. E foi mais longe ao dizer que a maioria dos crentes confunde a igreja com Deus. Ao se decepcionarem com a igreja, afirmam para todo mundo que estão decepcionados com Deus. Isto acontece porque muitos no afã de servirem a Deus acabam servindo a homens, a caprichos de lideres carismáticos ou autoritários. Esse serviço que deveria ser espontâneo, alegre, prazeroso se torna um peso. Essa conversa fez me entender que de fato perdemos a igreja de Cristo. Precisamos urgentemente reencontra-la.
Nas Escrituras nos deparamos com Jesus convidando a todos os que estavam sobrecarregados a serem seus seguidores a aprenderem com ele. O que é que as pessoas do tempo de Jesus carregavam e que era tão pesado? Estudando Mateus 11.28-30 dentro do seu contexto, descobrimos que o julgo e o fardo eram as leis que lideres religiosos da época colocavam sobre o povo como caminho para a salvação. Jesus afirma que os deveres que ele exige dos discípulos são fáceis. Que a carga que ele coloca sobre os seus seguidores é leve. Em outras palavras o evangelho de Jesus tem a simplicidade como marca. Simplicidade que se perde toda vez que a igreja se massifica. Sendo a maioria, ao invés de transformar a sociedade com sua simplicidade e moldada pela arrogância da mesma.
Ao discutir a nossa relação com a igreja, temos que também levar em conta a atitude de homens como João Calvino. Antes de morrer, expressou seu desejo de ser sepultado na maneira usual. Nenhuma pedra ou lápide foi colocada no lugar onde ele foi sepultado. Hoje ninguém sabe dizer o local onde seu corpo foi enterrado. Mas este extraordinário servo de Deus, com sua humildade e simplicidade, deixou-nos idéias e uma vasta obra que até hoje continuam vivas. Tudo porque decidiu viver sob o lema: Soli Deo Gloria, isto é, glória somente a Deus. No relacionamento com a igreja a única coisa que importa é que Deus seja glorificado. Amém!


Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

sábado, 18 de abril de 2009

DISCUTIR A RELAÇÃO OU VIVER

“Porém, se vivemos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros, e o sangue de Jesus, o seu Filho, nos limpa de todo pecado” (1Jo 1.7NTLH).

Virou moda discutir a relação. E na maioria das vezes é a mulher que propõe tal discussão. Quando ela toma a iniciativa é porque já não existe mais relacionamento. O que se deseja é apenas uma discórdia para justificar a eminente separação. Mas mesmo assim quero usar este espaço para discutir a relação – a nossa relação com a Igreja. Talvez porque sinto no ar que esse relacionamento não passa por bons momentos.
Ouço lideres dizendo que a “religião evangélica no Brasil está virando uma religião de massa”. Afirmam que “o grade desafio da igreja de nossos dias é o desafio ético”. Esse desafio existe por “pressão do mercado religioso” que impõem as igrejas a necessidade de estarem sempre cheias. Para que isso aconteça não se deve falar nas exigências do discipulado cristão e muito menos na ética. Por imposição do mercado as igrejas vivem de modismo em modismo, buscando sempre novidades que possam entreter e segurar os crentes. Outros dizem que a crise da igreja é uma “crise de identidade em razão da ruptura com sua história”, suas raízes e suas tradições. Essa ruptura transforma as comunidades evangélicas em “tabas religiosas com seus caciques” ou em “casas de shows pra expressão das fogueiras da vaidade”. Há ainda pastores que dizem não aguentar mais o “papel de baby-sitter de crentes burgueses, sempre ávidos por benção”.
Alguma coisa está errada nesse relacionamento. Parece-me que o grande problema é a confusão que muitos crentes fazem entre relacionamento com Cristo e relacionamento com a religião. Cristianismo puro não é religião. É relacionamento com uma pessoa viva - Jesus Cristo - que morreu na cruz pelos nossos pecados, venceu a morte e ressuscitou ao terceiro dia. Os que fazem do cristianismo uma religião ficam prisioneiros ou do ritualismo ou da ideologia do mercado religioso. Para escapar é necessário buscar um relacionamento verdadeiro com Jesus, Senhor da Igreja.
Este domingo é o segundo da Páscoa. Portanto é apropriado refletirmos sobre o que aconteceu depois da ressurreição. Os relatos bíblicos nos dão conta que várias pessoas encontraram com Jesus ressurreto. Essas pessoas nunca mais foram as mesmas. Suas vidas foram transformadas para sempre. Em nosso relacionamento com Cristo também deve acontecer o mesmo. Com a religião ou com a igreja é possível discutir a relação. Mas no relacionamento com Cristo não se discute, se vive a obediência e a transformação diária na sua imagem e semelhança.
A Igreja não precisa discutir a relação. Precisa de crentes transformados, que andem na luz, que vivam a comunhão com o Pai, com Jesus e uns com os outros. Amém
Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz
Obs.: O segundo parágrafo contém expressões extraídas e adaptadas, de artigos publicados na “Ultimato” de março/abril de 2009.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

FELIZ PÁSCOA!

"E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé" (1Co 15.14)


Para muitos a Páscoa se transformou numa tradição comestível, pois se misturou ao comércio tornando-se uma festa que lembra chocolate, coelho e mesa farta. Assim como o Natal, ela não conseguiu resistir aos apelos comerciais. De espiritual se transformou numa festa material com claros interesses lucrativos. Hoje, a Páscoa tem o formato de um ovo e movimenta milhões de reais em nosso País.
Páscoa, na sua essência, é uma festa judaica que lembra a saída do povo judeu do Egito, conduzido por Moisés, seguindo rumo à terra prometida por Deus a Abraão, Isaque e Jacó. Essa história bíblica está narrada no livro de Êxodo, que significa saída. É uma festa que fala de sofrimento, perseguição, mas também de vida, de alegria e de libertação.
Foi incorporada ao cristianismo, porque durante uma Páscoa judaica aconteceu o evento mais importante para os cristãos: a ressurreição de Jesus. O Senhor Jesus fez questão de se reunir com os discípulos para participar de sua última Páscoa e na ocasião exclamou: " Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento" (Lc 22.15). Era um momento importante, um momento de despedida que marcaria, com certeza, a vida dos discípulos. Após aquela cerimônia, todos cantaram o hino e foram para o Monte das Oliveiras. Era a última semana do ministério de Jesus aqui na terra. Um momento especial e de intensa emoção. Poucos dias depois o Mestre seria entregue às autoridades, julgado, e condenado. Os chefes dos sacerdotes e os líderes judeus convenceram a multidão a pedir a Pilatos que soltasse Barrabás e condenasse Jesus à morte. (Mt 27.20-23). Jesus foi levado ao monte chamado Calvário e ali crucificado. Depois sepultado em um sepulcro emprestado.
Segundo a narrativa de João, domingo pela manhã, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao sepulcro e o encontrou vazio. Desesperada começa a chorar. Jesus aparece e perguntam: “Mulher, por que você está chorando? Quem é que você está procurando?” Ela sem se dar conta do que está acontecendo responde: “Mestre?!”. Jesus lhe diz: “Vá se encontrar com os meus irmãos e diga a eles que eu vou subir para aquele que é o meu Pai e o Pai deles, o meu Deus e o Deus deles”. Então Maria Madalena foi e disse aos discípulos: “Eu vi o Senhor!” Foi a primeira testemunha da ressurreição.
Apesar de todas as anomalias da Páscoa de nossos dias, ainda hoje os cristãos continuam celebrando a ressurreição de Jesus. Ao celebrar podem dizem a todos: Feliz Páscoa, pois vimos o Senhor!




Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

sexta-feira, 3 de abril de 2009

PRIMAZIA DO CULTO A DEUS

“Então uma mulher chegou com um frasco feito de alabastro, cheio de perfume de nardo puro, muito caro. Ela quebrou o gargalo do frasco e derramou o perfume na cabeça de Jesus” (Mc 14.1)

No calendário Cristão a data de hoje é muito significativa. Iniciamos com o Domingo de Ramos e da Paixão a Semana Santa. Um período muito rico e de grande fervor espiritual. Durante esta semana devemos pedir que o Senhor nos prepare para a celebração do grande evento do cristianismo: a ressurreição de Jesus. O evento central deste domingo é a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém entre vestes e ramos estendidos pelo caminho e gritos de Hosana. Em meio aos textos do Lecionário indicados para hoje, um despertou meu interesse. É o texto do evangelho de Marcos que narra a unção de Jesus em Betânia. Creio que esta narrativa nos ajuda a entender como devemos nos preparar para a Páscoa.

Jesus está sentado à mesa na casa de Simão, o leproso. Uma mulher entra e derrama um perfume caríssimo, feito de nardo puro, sobre a cabeça de Jesus. O ato da mulher foi severamente criticado pelos presentes. Talvez porque ela entrou em um lugar destinado a homens e quebrou um costume da época. Esta atitude de se ungir o hospede cabia somente ao anfitrião. Mas a maior critica foi em função do elevado custo do perfume. “Que desperdício”, diziam. “Esse perfume poderia ter sido vendido por mais de trezentas moedas de prata, e distribuída aos pobres”.

A mulher queria tão somente homenagear o mestre. Aproveita a única oportunidade que tinha para enaltecer o Senhor. Por isso, Jesus elogia sua atitude. Ele estava a caminho da cruz e não estaria por muito tempo entre eles. O serviço aos pobres sempre pode e deve ser feito. Mas naquele momento o mais importante era prestar um serviço a Jesus, preparando-o para a morte.
Esse episódio nos ensina que a devoção e o amor a Deus devem sempre ser colocados acima de qualquer relação humana. O que vem depois, como o serviço ao próximo, aos pobres, o perdão, deve ser uma conseqüência do nosso relacionamento profundo e sincero com Deus.

Portanto, começando neste domingo de Ramos devemos buscar uma atitude de profunda adoração àquele que levantou Jesus de dentre os mortos. Ao mesmo tempo precisamos refletir com transparência sobre o lugar que o culto ocupa em nossa existência. Se não for o primeiro, devemos confessar e pedir ao Espírito Santo que nos capacite a dar ao Senhor a primazia, a honra e glória, hoje e sempre. Amém!
Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz