MEUS PARCEIROS

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A REFORMA DA FÉ OU FÉ DA REFORMA

“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, (...) como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.16-17)

Quando estou em um shopping, supermercado, rodoviária, aeroporto ou no centro de uma grande cidade procuro, sempre que possível, visitar as livrarias. Corro meus olhos pelos livros expostos logo na entrada, que são os mais procurados, e fico perplexo. Sempre há uma boa quantidade de bíblias e livros evangélicos. Há alguns anos isso era impensável, mas hoje é um sinal do crescimento evangélico em nosso país. No entanto, diante de tanta exposição, fico me perguntado se a fé evangélica que temos hoje é a mesma de antigamente ou se ela precisa passar por algum processo de purificação ou reforma.
Na mesma época do “achamento” do Brasil, como diz a carta de Pero Vaz de Caminha, um homem tem uma experiência marcante ao ler um verso de Romanos, capítulo primeiro e descobre uma fé viva em Deus que lhe parecia distante. Esse homem é um monge agostiniano, chamado Martinho Lutero, que impactado por essa fé, resolve denunciar os desvios e exageros da igreja de sua época. No dia 31 de outubro de 1517, na catedral de Wittemberg, divulga suas 95 teses. Inicia-se, assim, o movimento da Reforma Protestante do século XVI, cujo impacto chegou até nós no século XXI. Lutero foi perseguido por suas idéias, mas influenciou sua geração e mudou a compreensão do cristianismo para além do seu próprio tempo. Lutero não era perfeito. Cometeu erros no processo, como todos os que buscam algo novo. Mas ele tinha coragem, fibra e garra.

Hoje, a época que nos vivemos é chamada por alguns de pós-modernidade. Uma de suas características mais aparente é a falta de disposição para assumir compromissos. Não se fixar a uma relação afetiva, a uma ideologia política, a um grupo de interesse, a uma instituição religiosa são posturas contemporâneas. A adesão a fé é meramente mercantil e interesseira. A frequência às reuniões da igreja é estimulada pelo desejo de obter sucesso profissional, prosperidade, cura física e emocional. Não importa o conteúdo dessa fé, ela tem que produzir resultados.

O mundo e a igreja de nossos dias precisam de pessoas como Lutero. Pessoas que possuídas por uma fé genuína, acreditam, ousam, pensam e amam a Deus acima de qualquer coisa. Reformadores conectados com um mundo em constantes mudanças e que não têm preguiça de estudar, de ir além, de questionar seu tempo e confrontá-lo com as Escrituras. Pessoas fiéis a Jesus e verdadeiramente transformadas pelo Espírito Santo. Pessoas conscientes da atualidade, da urgência e da necessidade do poder transformador do evangelho.

Hoje, ao comemorarmos mais um ano da reforma, minha oração é que o mesmo Espírito Santo que agiu na vida de Lutero e o levou a influenciar com o evangelho a sua geração, venha sobre você também e o leve a reformar a fé cristã de nossos dias. Amém!

Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

sábado, 22 de outubro de 2011

DEIXANDO A BARBA DE MOLHO

“A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho” (Ez 18.20)

 Algumas pessoas do meu círculo de amizade, quando me encontram, olham para mim por alguns instantes, e comentam: “Ah! Que barba é essa?” Outros dizem: “Pastor, essa barba lhe caiu bem”. Ou então: “Gostei. O senhor fica bem de barba”. Mas alguns são diretos: “Pastor! Que barba horrível!” “Essa barba lhe envelhece muito”. “Por favor, pastor, tire essa barba!”. Para evitar a insegurança que o julgamento dos outros produzem, me apego aos que me são mais próximos – esposa e filhos. Como para eles estou bem, isso me basta. É como se eles fossem também responsáveis pela minha decisão. Mas preciso deixar minha barba de molho, porque a Bíblia ensina que cada pessoa é responsável pelos seus atos.

Lembro-me de uma época que no meio evangélico, muitos líderes ensinavam que os filhos recebem sobre si o castigo do pecado cometido pelos seus pais. Esse ensino (que ainda hoje tem muitos adeptos) ficou conhecido como “maldição hereditária”. Muitos atendiam a exortação de se procurar justificativa para os problemas da vida no passado dos familiares. Depois era só fazer uma oração de quebra de maldição e pronto. Tudo ficava resolvido.

Mas a idéia de uma maldição hereditária trás pelo menos dois perigos. Primeiro, ela me leva a julgar fatos, acontecimentos da vida, pessoas e situações sem levar em conta verdades do evangelho como amor, graça, perdão e misericórdia. Segundo, é que a imagem de Deus construída a partir desse pensamento é terrível. Imagine você no meio de uma situação triste e dolorosa tendo que ouvir alguém dizer: “Meu irmão, Deus te colocou nessa situação por causa dos pecados dos teus pais. Você está debaixo de uma maldição hereditária”. Será que Deus é tão cruel assim? Quem pensa dessa maneira ignora que a vida pertence a um Deus Soberano que tem diante de si o meu passado, presente e futuro.

Houve, sim, na antiguidade bíblica pecado cometido por uma pessoa cuja conseqüência recaiu sobre todo o povo, ou sobre uma tribo, ou família. Mas a partir de Ezequiel 18 a responsabilidade passou a ser individual: “a alma que pecar essa morrerá”. Hoje nenhuma pessoa está apta a pagar pelos pecados alheios. Somente Jesus Cristo é que pagou o preço do pecado de outros. Ele se fez maldição por nós e nos livrou de toda a maldição. Agora em Cristo sou livre, e todos os meus atos devem ser na direção do serviço a Deus e do serviço ao próximo.

Ponha você também sua barba de molho, isto é, fique atento, esperto, use sempre o bom senso.  Você pode até apoiar-se na opinião dos familiares para tomar decisões. Mas deve sempre assumir a responsabilidade pelos seus atos. Você não responde pelos erros dos seus pais e nem seus filhos irão responder pelos seus.

Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

INFÂNCIA DESAMPARADA

“Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus”. (Mc 10.14)

Rafinha Bastos, durante o programa “CQC” transmitido pela “Band”, fez, ao vivo, uma piada de gosto duvidoso envolvendo a cantora Vanessa Camargo e o bebê que ela está esperando. A declaração do humorista gerou uma onda espantosa de reações. Até o Ministério Público declarou que vai investigar a declaração para apurar se houve agressão verbal contra o bebê que ainda está sendo gerado. Se a piada fosse dirigida a uma mulher grávida comum talvez ninguém estivesse preocupado em proteger a criança. Sendo assim, infelizmente, temos no Brasil uma infância, de modo geral, desamparada.

A revista ISTOÉ de 28 de setembro trouxe uma reportagem sobre a violência contra a criança. Segundo a revista, um estudo dos pesquisadores Marco Antônio Couto Marinho e Luciana Andrade, da PUC de Minas Gerais e do Observatório Metrópole, apontam dados alarmantes. Pela primeira vez na história, a faixa etária em que os homicídios mais cresceram no Brasil foi a dos 10 aos 14 anos. Os homicídios são patrocinados, principalmente, por maníacos sexuais, violência policial e ação de narcotraficantes.

A falta de amparo para a infância começa na desestruturação da família. A falta de estrutura, de educação, de civilidade, de amor provoca ausência da identidade familiar. Que por sua vez, enfraquece os membros da família deixando-os vulneráveis ao individualismo. Como cada um se preocupa consigo mesmo, a teia familiar se rompe facilmente e a infância fica totalmente desamparada. Também, com o acesso a tecnologia cada vez mais facilitado, a ausência de uma teia de proteção, permite que as crianças obtenham informações sobre temas que, psicologicamente, não estão preparadas para assimilarem. Como por exemplo, informações obtidas na internet sobre armas, explosivos, assaltos, crimes, drogas e outros.

A igreja tem um papel importante na construção de abrigos seguros para a infância. Deve começar capacitando a família a produzir uma identidade familiar que seja capaz de fazer frente ao individualismo. Deve também motivar a família a controlar o acesso a informações não apropriadas para a infância. Deve ainda, permitir que as crianças cheguem a Jesus e aprendam o evangelho do amor, da amizade, do perdão do companheirismo, do repartir com os mais necessitados.

Ao comemorar mais um Dia da Criança, precisamos pensar em como estamos amparando nossas crianças. Será que, empurrados pelo individualismo e na ânsia de obter sucesso material, não estamos desprotegendo nossos filhos deixando-os a mercê de toda a sorte de violência? Para evitar uma infância desamparada, desafio-o a construir uma identidade familiar forte e a permitir que as crianças encontrem em Jesus a verdadeira motivação para a vida.

Soli Deo Gloria!
Rev. Ezequiel Luz