“Jesus, cheio do Espírito Santo, (...)
foi levado pelo Espírito ao deserto. Ali ele foi tentado pelo Diabo durante
quarenta dias (...)” (Lc 4.1-2).
Aumentou o número de mortos em consequência
do incêndio na Boate Kiss na madrugada do dia 27 de janeiro. Aumentou o número
de pais que choram a perda de seus filhos. Aumentou também a dor da cidade de
Santa Maria no Rio Grande do Sul onde ocorreu a tragédia. A dor e a tragédia revelaram
que mais de 70% das casas noturnas no Brasil não oferecem as mínimas condições
de segurança. Produziram um sentimento nos brasileiros de que não é mais
possível tolerar o descaso com a vida. Mas será que esse sentimento persistiu durante
o carnaval? Ou a preocupação maior foi com a diversão em detrimento da vida?
A experiência do sofrimento assusta, mas a
dor conduz a um aprendizado eficiente. Na verdade o sofrimento é pedagógico. Embora
dolorosas, as experiências da dor fazem-nos crescer. Elas contribuem para o
nosso amadurecimento espiritual. Sem a experiência da dor ficaríamos vulneráveis
e seríamos pessoas vivendo no limiar das superficialidades. Nossas lágrimas
regam e adubam o solo de onde brotará a nossa esperança por dias melhores.
Iniciamos neste domingo a Quaresma. A prática
de observar esse tempo de quarenta dias úteis e seis domingos vem desde o
século IV, antes mesmo da Reforma. É um tempo litúrgico de autoexame, arrependimento,
uso intenso dos meios de graça (Palavra, oração e jejum) e disciplina
espiritual. Durante este período, a igreja, entristecida, proclama, relembra e
responde ao sofrimento de Cristo na cruz. A Quaresma está baseada no simbolismo
do número quarenta. Quarenta dias do dilúvio, quarenta anos de peregrinação do
povo judeu pelo deserto, quarenta dias de Moisés no monte, quarenta dias de Jesus
no deserto sendo tentado pelo diabo. O número quatro simboliza o universo
material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra com privações
e sofrimentos.
Assim como a dor de Santa Maria gerou muita
reflexão e produziu mudanças de atitudes em relação à vida humana, a quaresma
também, ligada ao sofrimento de Cristo, deve levar-nos a reflexão e a mudança
de vida. E para que ela tenha efeito precisamos avaliar nossa fé, nossa prática
cristã, nossa prática humanitária e colocar o resultado aos pés da cruz. Temos
que meditar na Palavra, orar e jejuar pedindo que o Espírito Santo ilumine
nossa mente e coração para enxergarmos o que precisa ser corrigido e
consertado. Só assim voltaremos a caminhar no centro da vontade de Deus.
Jesus, como homem, aprendeu a vencer as
tentações no deserto. Que o Eterno nos ajude a entender o valor pedagógico da
dor e da quaresma. Amém!
Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel
Luz
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