“Então, Pedro, tomando a palavra, disse: Mestre, bom é estarmos aqui e que façamos três tendas: uma será tua, outra, para Moisés, e outra, para Elias” (Mc 9.5).
“Ah! Se eu pudesse ficaria neste lugar para sempre”, disse minha esposa quando estávamos arrumando as malas. A tensão da cerimônia de casamento cessou. A agitação da festa ficou para trás. Agora a viagem da lua-de-mel estava terminando. Voltaríamos para o dia-a-dia, para rotina, para nossos afazeres e toda a mordomia oferecida pelo hotel ficaria só na lembrança. Como seria bom se pudéssemos eternizar certos momentos da nossa existência. Esta tentação todos nós enfrentamos porque não percebemos que cada experiência é única.
O texto bíblico acima faz parte da narrativa de Marcos sobre a Transfiguração do Senhor ocorrida em um monte alto. Longe da multidão, e na intimidade de Pedro, Tiago e João, a aparência de Jesus se transforma. Sua roupa fica “muito branca e brilhante mais do que qualquer lavadeira seria capaz de deixar”. Além disso, aparece entre eles Moisés e Elias. No calor dessa experiência sublime Pedro sugere que aquele momento fosse eternizado. “Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos armar três barracas: uma para o senhor, outra para Moisés e outra para Elias”. Mas uma nuvem os envolve e dela sai uma voz dizendo: “Este é o meu Filho querido. Escutem o que ele diz!”. Então tudo volta ao normal. Eles descem do monte e Jesus pede que aquela experiência seja mantida em segredo até depois da sua ressurreição.
A mesma situação pode acontecer com cada um de nós. Participamos de um culto abençoado, maravilhoso e queremos ficar ali, desfrutando do êxtase. Em outras palavras queremos institucionalizar aquele momento para que ele possa ser repetido. Precisamos da experiência de estar com Jesus no monte. Não há nada de errado com isso. O problema é querer perpetuar esses momentos. Precisamos também descer do monte e ir para o vale. No vale estão as pessoas necessitadas, escravizadas, paralisadas e que precisam de nossa ajuda.
Hoje, enquanto desfrutamos do dia da Transfiguração do Senhor, muitas pessoas se transformam para dar vazão aos seus instintos carnais. Assim transformam suas vidas em uma bagunça de carnaval. Nossa ação, não deve ser a de perpetuar nossa experiência espiritual, mas sim de usar o poder que dela recebemos para proclamar libertação aos que são escravizados pela folia do carnaval.
Rev. Ezequiel Luz