“Porque para com Deus não há acepção de pessoas” (Rm 2.11).
Cleber Eustáquio Neves, procurador da República do Ministério Público Federal de Uberlândia, provocou uma polêmica no inicio do mês, ao ajuizar uma ação civil pública pedindo a remoção das livrarias do dicionário Houaiss, um dos mais completos do país. Neves deu guarida a uma representação de um cidadão de origem cigana em 2009, ocasião em que denunciou discriminação e preconceito contra sua etnia. O dicionário Houaiss, das oito definições da palavra cigano, registra como pejorativo o seguinte sentido: “aquele que trapaceia; velhaco, burlador” e “aquele que faz barganha, que é apegado ao dinheiro; agiota, sovina”. Hora, o dicionário é apenas um registro dos significados de todas as palavras que estão ou estiveram em uso em uma determinada língua. Portanto, quem utiliza a palavra cigano nas acepções acima, pode ser acusado de preconceito, mas é um desvio maior propor uma censura a esses registros por seu potencial ofensivo. Não se acaba com a discriminação e o preconceito higienizando os dicionários. Mas sim ensinando, principalmente as novas gerações, que essas atitudes são inadequadas à pessoa humana.
Neste aspecto a igreja tem um papel fundamental ao proclamar / ensinar o evangelho de Jesus Cristo. Fiódor Dostoiévski, um dos maiores escritores da literatura mundial, no livro “Os Irmãos Karamázovi”, usa uma narrativa sobre a vida do padre Zósima, para mostrar a importância de se explicar a Bíblia ao povo. Segundo Alieksiéi, um dos Karamázovi, o líder religioso teria dito que o padre deveria reunir em sua casa, uma vez por semana, as crianças - os pais viriam depois. Nessa reunião dever-se-ia abrir a Bíblia e ler as histórias de Abrão e Sara, de Isaque e Rebeca, de José e seus irmãos, da bela Ester, o nascimento a vida e as parábolas de Jesus, a conversão de Saulo. Apenas ler e explicar um ou outro termo que pudesse dificultar a compreensão e deixar que a mensagem tocasse o coração e moldasse o caráter das crianças.
Boa parte de nossas igrejas começaram assim. Reuniam-se crianças, uma vez por semana, para contar-lhes histórias bíblicas. Depois de algumas reuniões, os pais se aproximavam. Eram tocados pela singeleza das narrativas bíblicas, se convertiam e formavam uma congregação. Depois essa congregação era organizada igreja e dava continuidade a esse processo de ensinar a Bíblia ao povo.
Não consigo enxergar maneira mais eficaz de se eliminar a discriminação e o preconceito. A Bíblia fala de amor ao próximo, de respeito às pessoas, de perdão, de reconciliação, de solidariedade. Estas virtudes produzidas no coração dos homens são capazes de eliminar a discriminação e o preconceito. Não precisamos banir do dicionário os termos com uso preconceituoso. O dicionário existe para registrar esses usos. O que precisamos e de ensinar a Bíblia ao povo.
Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz
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